#FLAGvox | Mais do que diplomas: porquê a formação contínua é o novo capital mais valioso

Até há poucos anos, um diploma era suficiente para abrir portas. Hoje, é apenas o bilhete de entrada para uma sala onde a conversa muda todos os dias. O mercado transformou-se num organismo em constante transformação, onde o que é verdade num trimestre pode tornar-se obsoleto no seguinte. E, nesse contexto, acreditar que um curso terminado há uns anos ainda garante relevância é mais um acto de fé do que de realismo.

Embora ainda persista a ilusão de que o diploma é, por si, suficiente, a realidade é que já não resiste ao teste do tempo. Muitas vezes, o que se aprende na universidade começa a perder validade antes mesmo de o profissional atingir o meio da carreira. Aliás, em muitas áreas, essa data de expiração pode ser de apenas alguns meses. E, por isso, acreditar no diploma como um passaporte vitalício é como confiar num GPS que já não recebe actualizações: até pode indicar o ponto de partida, mas não garante que se chegue ao destino certo.

O novo capital mais valioso chama-se formação contínua. A capacidade de aprender, desaprender e reaprender é hoje mais preciosa do que o próprio conhecimento acumulado. Nos novos talentos, esta competência adaptativa é tão determinante quanto a técnica. Já não basta perguntar “o que sabes?”, é urgente perguntar “o que és capaz de aprender?”. A resposta a essa pergunta define a velocidade com que alguém se ajusta, inova e contribui para o futuro de uma organização.

E aqui entra o papel decisivo dos gestores de Recursos Humanos. Não basta seleccionar candidatos com currículos impressionantes. É necessário criar ecossistemas que respirem actualização: programas internos de formação, acesso a novas metodologias, incentivo à experimentação e, sobretudo, uma cultura que não penalize a curiosidade. Ainda há empresas que contratam pelo diploma e, meses depois, se queixam da falta de adaptação dos novos colaboradores. O problema não está na geração que chega, mas na estratégia que os recebe.

Ignorar a formação complementar é aceitar que o talento de hoje pode ser o profissional desajustado de amanhã. É ceder ao risco de ficar para trás, não apenas como indivíduo, mas como organização. Num mercado onde a mudança é a única constante, a estagnação é uma regressão silenciosa.

Se queremos equipas preparadas para um futuro que ninguém consegue prever, é preciso abandonar a ideia de que aprender é um capítulo inicial da carreira. Aprender é a carreira. E os líderes de Recursos Humanos têm a responsabilidade de transformar esta visão em prática. Não como um gesto de boa vontade, mas como uma estratégia de sobrevivência e crescimento. Porque, mais do que diplomas, o que vai manter os novos talentos relevantes é a ação contínua de aprender, e não a memória de um dia ter aprendido.

Artigo de Opinião em: Human Resources | Texto de: Gabriel Augusto