A propósito do Dia das Pequenas e Médias Empresas, que se celebra hoje, a 27 de junho, a Líder esteve à conversa com Gabriel Augusto, Diretor Geral da FLAG.
Nesta entrevista ficamos a compreender um pouco melhor o tecido empresarial português e tomamos nota que não é aconselhável às empresas oferecer formação apenas para justificar um prémio, ou a exigência legal.
O empreendedorismo português está de boa saúde e a tendência da formação das lideranças em novas áreas de competências humanas, nomeadamente na Psicologia, está para ficar.
Dados de 2022 (Pordata) apontam para 1, 4 milhões de empresas em Portugal. Afinal, somos um povo empreendedor ou não?
Passamos por tempos interessantes. Desde logo, a União Europeia assume o empreendedorismo como fator chave da competitividade, importante para o que define como uma cultura empreendedora europeia. Aliás, a iniciativa da União Europeia, o Small Business Act, é um exemplo de um pensamento que espera melhorar a abordagem política ao tema, através do princípio Think Small First na definição das políticas. Isto, para referir que, e acordo com a SME Performance Review 2022/2023 – Portugal Country Sheet, o nosso país apresenta um desempenho acima da média comunitária, seja na criação de novas empresas (1,4%, em comparação com 1,0%), seja na atividade empreendedora total (12,9% contra 7,3%) . Ou seja, somos um povo que não se resigna, que procura novas oportunidades nos quatro cantos do planeta, que sabe responder às transformações económicas, sociais e tecnológicas que se verificaram nas últimas décadas.
Como avalia a evolução e transformação das PME ao longo das últimas três décadas?
Pode ser avaliada através de várias dimensões, incluindo tecnologia, globalização, financiamento, legislação, inovação e formação. A formação nas PMEs evoluiu significativamente, adaptando-se às mudanças tecnológicas, às novas exigências do mercado e às oportunidades proporcionadas por políticas de apoio governamental, como é o caso das recentes medidas no âmbito do Fundo de Compensação do Trabalho, a partir do qual temos verificado amplo investimento em formação.
Que tendências antevê para o empreendedorismo?
Acima de tudo, será um empreendedorismo que continuará a entrar mais a fundo nas novas tecnologias, vocacionado para responder aos desafios globais que se verificam. Por exemplo, ao nível do marketing digital, design, programação, entre outras vertentes digitais criativas, nestas áreas não é relevante a origem, o género ou dimensão organizativa. Importa o know how, a capacidade de resposta, a pensar fora da caixa. E esta é mais do que uma tendência, é uma realidade com que nos deparamos diariamente.
A outros níveis, também a transformação geoeconómica dos últimos anos permitirá que se pense mais além, por exemplo, ao nível das cadeias de abastecimento, bem como em setores empresariais que, inevitavelmente, se relocalizarão mais para ocidente. E não serão apenas as grandes indústrias, pelo contrário, é no ecossistema envolvente, feito de PMEs e ofertas muito específicas, sejam estas mais tecnológicas, mecânicas ou na utilização de matérias-primas, que poderemos marcar uma posição.
Mas tudo isto apenas fará sentido se for, também, um empreendedorismo mais humano, capaz de vincar o seu papel ao nível da responsabilidade social, através de medidas inclusivas, que não deixem ninguém para trás, pelo contrário, que sejam capazes de dar um papel de relevo a todas as pessoas, sem que isso retire exigência e foco no resultado.
Para as empresas, que competências estão em alta?
Nos últimos anos assistimos a uma crescente necessidade pelo aprofundamento de conhecimentos a nível digital. E esse é um aspeto transversal às organizações, independentemente do seu setor de atividade. A explosão da Inteligência Artificial generativa não tem apenas como intuito focar os profissionais para o cabal desenvolvimento do modelo de negócio original das empresas. É um conceito definidor de uma nova realidade na qual nos encontramos, que exige conhecimentos e capacidade de resposta aos desafios e oportunidade que se levantam. E que não se cinge apenas às grandes organizações. Em Portugal, as exportações de bens e serviços têm sido cruciais para um crescente número de organizações. E se o nosso tecido empresarial é constituído por 99,9% de PME, então, a sua competitividade e capacidade de resposta à concorrência implica a adoção de métodos atuais e diferenciadores.
Temos acompanhado esta dinâmica, também porque somos uma PME, e porque trabalhamos diariamente com outros agentes económicos que enfrentam os mesmos desafios. A capacidade de ser criativos, dominar as grandes ferramentas digitais e de assumir uma posição de charneira, são fatores decisivos no sucesso de uma organização. Nesse sentido, o que verificamos é uma crescente atenção para o reforço das competências, em áreas que vão do Marketing Digital & E-Commerce ao Design Gráfico, do Vídeo & Motion Design à UX/UI, Programação, CAD ou Design Thinking.
Que formação destaca como essencial a um perfil de liderança?
Felizmente, cresce em Portugal a atenção das lideranças pela sua própria formação. Já não é um constrangimento, um assunto desconsiderado, apenas para aqueles falhos de qualidades. As lideranças estão mais atentas à necessidade de ganhar novas competências, não apenas técnicas, mas também humanas. Todos temos a perceção que a chefia é de uma enorme exigência, transversal nos conhecimentos e nas abordagens. Um responsável não pode apenas ficar atentos a aspetos decorrentes da gestão tout court do negócio.
E posso dar o exemplo de duas áreas cruciais: uma maior atenção às componentes de marketing e comunicação numa ótica digital e a capacidade de lidar com diferentes personalidades. A psicologia não se valoriza apenas nas academias ou nos consultórios, os escritórios são cada vez mais palco privilegiado para a adoção das grandes tendências desta disciplina.
E o que não devem as organizações descurar?
Desde logo, não devem descurar as suas pessoas. É muito importante que, ao desafiar os profissionais, o façam cientes do seu perfil, com um plano de trabalho devidamente idealizado. Não basta oferecer a formação, é muito importante que se saiba porque é oferecida. Para tal, incentivamos as organizações a, primeiramente, abordarem a nível interno essas perspetivas formadoras, compreender a motivação dos colaboradores. Ou, por outro lado, a motivá-los a desenvolver algo, explicar o porquê, criar condições para que a formação traga resultados concretos a todas as partes, com consequências positivas.
Outro aspeto que as empresas têm de considerar é se determinada formação é estratégica. Ou seja, se faz sentido, se traz ganhos à estrutura, se advirá um proveito para todos. Desencorajamos que se potencie um pacote de formações apenas como prémio aos profissionais, ou para justificar legalmente essa exigência. Pelo contrário, aconselhamos as empresas a definir muito corretamente o que pretendem fazer, como o querem fazer, pensar a prazo nestas dinâmicas, dar bases às suas equipas para que realmente ganhem valências em matérias que vão fazer evoluir, não apenas o indivíduo, mas o todo da organização.
Como surgiu a FLAG e qual a sua história?
A FLAG é uma empresa com 32 anos, criada para responder às necessidades de formação contínua em artes gráficas, então, com um foco muito específico em ferramentas para Design Gráfico. A atual gestão chega à marca em 2006. A integração no Grupo Rumos visou complementar de forma transversal o respetivo portefólio de empresas de formação. Com isso, alargaram-se as áreas de especialização da oferta, de forma a englobar domínios complementares às artes gráficas, em especial, no desenvolvimento de competências para empresas e particulares, seja em Design, Comunicação, Marketing e Criatividade.
Qual é o curso com mais procura na vossa Escola?
Os cursos da FLAG com mais procura alinham-se perfeitamente com as tendências do próprio mercado. Atualmente, destacamos os cursos nos domínios de Marketing Digital, UX/UI, Design (gráfico e vídeo), Inteligência Artificial e Metodologias Ágeis. Para os particulares, a oferta mais procurada reside nos cursos de longa duração, como as Academias FLAGProfessional, desenhadas para o desempenho de uma dada função profissional. Os profissionais com maior experiência procuram soluções formativas mais intensivas e especializadas, como é o caso de Cursos Especializados, Monoprogramas e Bootcamps.
Entrevista em: Líder Magazine.