fbpx

#FLAGvox | Criatividade: Entre o Efémero e a Transformação

Criatividade sob a perspetiva de Margarida Franco. 

 

A criatividade é um campo eternamente fascinante, uma fonte de magia que nos permite explorar novos horizontes e dar forma ao mundo. A capacidade de criar algo verdadeiramente original é muitas vezes vista como um dom mágico, algo inato e único reservado só a alguns. Contudo, se analisarmos mais de perto, veremos que a criatividade é alimentada por uma profunda apreciação do presente e uma compreensão atenta da natureza mutável da nossa realidade. A filosofia japonesa ichi-go ichi-e (“um encontro, uma oportunidade”) e a máxima de Lavoisier oferecem lentes através das quais podemos redefinir e enriquecer o nosso processo criativo.

Ichi-go ichi-e: O Valor do Efémero na Criatividade

A filosofia de ichi-go ichi-e, enraizada na tradição japonesa do chá, celebra a singularidade de cada encontro e momento, enfatizando que nunca podemos replicar uma experiência com precisão total. Para alguém envolvido em áreas criativas, esta percepção pode transformar o modo como abordamos cada projeto.

Em vez de ver cada tarefa como apenas mais uma no fluxo de trabalho, podemos começar a ver cada projeto como uma oportunidade única de inovação e expressão.

Valorizando a impermanência, esta filosofia inspira-nos também a aproveitar ao máximo cada instante das nossas vidas e a abraçar as ideias como encontros fugazes, apreciando a sua individualidade. Ora isto pressupõe uma observação plena do presente, o que pode significar uma atenção especial aos detalhes que muitas vezes são negligenciados. Estes pequenos detalhes podem conter sementes de grande criatividade, e ser a chave para ideias que rompem padrões e captam a imaginação do público. Por exemplo, ao desenvolver uma nova campanha de marketing, estar atento ao feedback dos clientes sobre uma promoção anterior pode inspirar um ângulo totalmente novo que fala diretamente às suas preferências e preocupações únicas.

Além disso, ao valorizar cada momento como se fosse único, incentivamos uma mentalidade que busca beleza e inspiração mesmo em situações comuns. Esta abordagem pode desbloquear uma fonte contínua de ideias criativas, pois cada dia traz consigo um conjunto singular de experiências e interações.

A Máxima de Lavoisier: A Transformação Como Base da Criatividade

Por outro lado, a famosa afirmação do químico Antoine Lavoisier que “nada se cria, nada se perde, tudo se transforma” reflete a constante mutação e transformação do universo, consistindo num lembrete poderoso da constante possibilidade de reinvenção. Na prática criativa, isso significa que podemos agarrar em materiais, ideias, ou mesmo ‘fracassos’ antigos e transformá-los em algo novo e apelativo. Este é o cerne da inovação sustentável — a habilidade de reciclar e adaptar como resposta a mudanças no ambiente ou nas tendências de mercado.

Esta perspectiva ensina-nos a libertarmo-nos do medo do fracasso e a permitirmo-nos explorar novos territórios criativos. Cada ideia descartada não é uma perda ou um ponto final, mas um ponto de partida, uma oportunidade de transformação, aprendizagem e crescimento. Uma campanha de marketing que não atinge os seus objetivos, por exemplo, não é apenas um conjunto de esforços desperdiçados, mas um conjunto rico de lições que podem ser analisadas, compreendidas e utilizadas para tecer futuros sucessos. Aqui, a criatividade é vista como um processo contínuo de transformação, onde cada resultado é um degrau na escada da perfeição criativa.

A Complementaridade das Perspectivas para a Criatividade

Integrar a apreciação da singularidade de cada momento com a compreensão de que tudo no universo está em constante mutação cria um terreno fértil para a criatividade. Ao abraçar a filosofia de ichi-go ichi-e, cultivamos uma maior presença e atenção, que são essenciais para identificar as oportunidades únicas que cada dia nos oferece. Simultaneamente, ao interiorizar a máxima de Lavoisier, desenvolvemos uma resiliência criativa e uma habilidade de ver além do aparente ‘fim’ das coisas, transformando o velho no novo.

Por isso, na busca pela próxima grande ideia, tanto na vida pessoal como profissional, estes ensinamentos podem ser guias valiosos. Eles não apenas nos inspiram a criar com mais profundidade e autenticidade, mas também a viver de uma maneira mais plena e consciente.

Concluindo, tanto no marketing como na vida, a criatividade é alimentada tanto pela apreciação dos momentos únicos quanto pela transformação constante das nossas experiências. A arte de criar não é apenas um processo de fazer algo novo do nada, mas sim de ver o velho com novos olhos, de valorizar cada momento e aprender a moldar as sobras do passado em algo novo e estimulante. É uma lembrança de que, mesmo nos dias mais monótonos, há sempre espaço para uma faísca de criatividade.

 

Este artigo de opinião faz parte do eBook FLAG “Criatividade em Perspetiva, que reúne, página a página, reflexões e ensaios profundamente enriquecedores de diversos profissionais sobre as multifacetadas dimensões da Criatividade.

Faz o download do eBook gratuito aqui.