#FLAGvox | Do Visual à Narrativa Digital
Vivemos num mundo em rápida transformação, onde o design desempenha um papel central na maneira como interagimos com tudo ao nosso redor. Desde a forma como usamos os nossos dispositivos até às interações mais subtis e complexas entre humanos e tecnologia, o design tornou-se uma força invisível, porém omnipresente, moldando a nossa realidade. Mais do que uma ferramenta de estética, o design evoluiu para ser uma poderosa interseção entre funcionalidade, expressão artística e impacto social. E é exatamente neste cruzamento que o futuro do design se revela como uma jornada de comunicação, que vai de toda a componente visual até a narrativa em todo o universo digital.
No coração desta evolução está a necessidade de comunicar, comunicar eficazmente. Comunicação, que antes de alguma forma se limitava a transmitir uma mensagem de forma clara e direta, agora envolve uma teia rica de elementos visuais, interativos e emocionais que juntos constroem toda uma narrativa mais envolvente. O design, nesta nova era digital, não é apenas sobre criar algo “bonito” – é sobre criar experiências que ressoam, que captem a atenção e que, acima de tudo, conectem as pessoas de maneiras profundas, mais imersivas e significativas.
O design visual, a parte mais visível desta equação, sempre foi fundamental. Ele é a primeira impressão, o primeiro contato que define a identidade de uma marca, produto ou ideia. Mas o design sozinho já não é suficiente. O mundo digital exige muito mais – exige que cada elemento visual faça parte de um propósito, de uma narrativa coesa e fluida que oriente o utilizador numa jornada completa. A presença das marcas no digital hoje em dia, já não são meros catálogos de informação, mas sim um ecossistema dinâmico onde o design e a comunicação se manifestam de forma multifacetada. É um novo campo de batalha, onde as lutam pela atenção e lealdade dos consumidores.
A escolha de uma paleta cromática não é apenas uma questão de gosto ou estética, mas uma decisão estratégica que influencia a perceção e o comportamento do utilizador. Cada clique, cada deslize, cada segundo que o utilizador passa numa plataforma é uma parte desta história em desenvolvimento. A estrutura, a fluidez da navegação, a disposição dos elementos visuais, é mandatório que tudo deve trabalhar em uníssono para contar uma história, para segurar o utilizador e para o levar numa jornada emocional memorável. Neste cenário, a estética não é apenas para agradar aos olhos, mas para criar uma conexão, para despertar uma reação, seja ela de curiosidade, confiança ou desejo. Aqui, o design de interação, UX/UI, assume um papel vital na construção dessa narrativa visual como uma experiência intuitiva e agradável, onde o utilizador se sente guiado, compreendido e, acima de tudo, valorizado.
A narrativa digital de uma marca, deve ser construída com toda a coerência. Os ecossistemas dinâmicos já referidos, têm um ritmo frenético e formatos diversificados, tornaram-se um dos terrenos mais férteis para o design e para formas distintas de comunicar. Cada post, cada storie, cada “tweet” é uma oportunidade para contar uma parte da história de uma marca ou de um indivíduo. Aqui, o design deve ser ágil, adaptável e, acima de tudo, autêntico. O público nas redes sociais é perspicaz e exige transparência; por isso, o design obriga-se a ser uma extensão genuína dos valores e da personalidade da marca.
Neste contexto, fenómenos culturais contemporâneos como a “Woke Culture” e o movimento “Brat” têm exercido uma influência significativa sobre o design e a comunicação. A “Woke Culture” exige que as marcas sejam socialmente conscientes, promovendo a diversidade, a inclusão e a justiça social. O design, portanto, deve refletir esses valores, utilizando símbolos, cores e narrativas que ressoem com uma audiência cada vez mais consciente, exigente e crítica. Por outro lado, movimentos como o “Brat”, com a sua abordagem irreverente e provocadora, desafiam as normas tradicionais, incentivando um design que seja ousado, disruptivo e que se conecte com uma audiência que busca autenticidade e inovação.
Estes fenómenos não só moldam as expectativas das pessoas em relação às marcas, mas também orientam a direção criativa dos designers. O design deve, portanto, ser flexível e adaptável, capaz de responder às mudanças culturais e sociais de forma ágil e relevante. À medida que novos movimentos surgem, o design terá que continuar a evoluir, integrando essas influências para criar experiências que não apenas capturam a essência do presente, mas que também apontam para o futuro.
Em última análise, o design e a comunicação são sobre pessoas. Trata-se de entender as suas necessidades, desejos e aspirações, e de criar experiências que falem diretamente para elas. Trata-se de criar pontes entre o visual e o digital, entre a funcionalidade e a estética, entre o presente e o futuro. E é nesta interseção que encontramos o verdadeiro poder do design – o poder de moldar o mundo à nossa volta, de inspirar mudanças e de criar um futuro melhor.
Este é o momento de ver o design não apenas como uma ferramenta, mas como uma força transformadora, capaz de nos conduzir por narrativas digitais que refletem quem somos e quem queremos ser. O design, sempre atento a fenômenos culturais e sociais, continuará a ser uma bússola para as mudanças que virão, guiando-nos através de uma jornada onde o impacto social e a inovação estética caminham lado a lado, moldando um futuro mais inclusivo e conectado.
Artigo de opinião escrito por Miguel Reis.
Este artigo de opinião faz parte do eBook FLAG “Design em Perspetiva – As Múltiplas Facetas do Design” que reúne reflexões e ensaios de 14 profissionais que partilham as suas perspetivas sobre o papel do design na sociedade atual e futura.
Faz o download do eBook gratuito aqui.