#FLAGvox | Do Visual ao Estratégico: Como o Design se Mantém Centrado nas Pessoas

O design não é apenas aquilo que vemos, mas também como interagimos com o mundo à nossa volta. Desde o ecrã do smartphone até às estratégias empresariais, o design transformou-se e continua a evoluir, sempre centrado nas pessoas. Ao longo do tempo, as várias esferas do design expandiram-se, mas mantêm um princípio comum: melhorar a vida das pessoas, seja através da funcionalidade, da estética ou da experiência.
Se no início o design era visto principalmente como visual, hoje compreendemos que todas as suas vertentes – do gráfico ao de interação, do industrial ao estratégico – estão interligadas e partilham este mesmo objetivo. O design gráfico, embora focado no visual, continua a desempenhar um papel essencial no design de interação, onde a interface de utilizador deve ser tanto funcional como estética. O design thinking, uma metodologia focada na resolução de problemas complexos com empatia e experimentação, vai além do visual para se aplicar ao desenvolvimento de produtos, serviços e estratégias empresariais. Todas as áreas do design fazem parte de uma abordagem holística, onde a compreensão das necessidades humanas é o fio condutor.
Ao reconhecer estas interligações, os designers conseguem abordar os seus projetos de forma mais integrada. Um designer gráfico que se envolve no desenvolvimento de interfaces digitais traz consigo uma base importante sobre como o visual comunica com o público. Da mesma forma, designers de interação que incorporam elementos de design gráfico ou industrial criam soluções mais completas e eficazes.
Um exemplo desta interligação é a evolução do UX e UI design. Os produtos da Apple são conhecidos pela sua estética apelativa e funcionalidade intuitiva. Steve Jobs, que valorizava profundamente o design gráfico e industrial, procurou sempre equilibrar beleza visual e usabilidade. Cada detalhe, desde a suavidade dos dispositivos até à fluidez das animações, reflete esta união. Mas o sucesso dos produtos da Apple vai além de um design visualmente agradável; ele é fruto de um foco constante nas necessidades dos utilizadores e na simplificação das suas experiências. A integração entre o design gráfico, de interação e industrial revolucionou a indústria tecnológica.
Enquanto a Apple exemplifica a fusão de diferentes vertentes no setor tecnológico, também no setor público o design centrado no humano gera transformações. O Programa Simplex+, do governo português, é um exemplo. Criado para combater a burocracia e melhorar a eficiência dos serviços do Estado, o Simplex+ colocou o cidadão no centro da mudança. Através da digitalização de processos como o Cartão do Cidadão e o Portal do Cidadão, simplificou-se o acesso a serviços como a renovação de documentos ou a submissão de impostos. Estas inovações reduziram drasticamente a necessidade de deslocações às repartições públicas, mostrando como o service design pode resolver problemas e melhorar a experiência dos utilizadores.
No entanto, esta expansão do design só é eficaz quando mantemos o foco no fator humano. A empatia – a capacidade de se colocar no lugar do outro – é a base de um design bem-sucedido, seja ao criar uma aplicação móvel ou ao desenvolver um serviço estratégico. Os designers são, no fundo, solucionadores de problemas, e os problemas que resolvem são quase sempre problemas humanos.
Como aplicar este princípio de empatia em diferentes setores?
Na área da saúde, o design de interação tem sido crucial para criar sistemas de gestão hospitalar mais intuitivos, como plataformas que facilitam a marcação de consultas e a comunicação entre médicos e pacientes. A aplicação SNS 24, por exemplo, permite aos cidadãos acederem a serviços de saúde online, como teleconsultas e renovação de receitas, reduzindo a burocracia e melhorando a experiência dos utentes.
Outro setor onde o design centrado no utilizador tem tido impacto é a banca. Com o crescimento dos bancos digitais, as empresas investiram em interfaces mais simples, transparentes e intuitivas, reduzindo a fricção em processos bancários. O ActivoBank, em Portugal, é um exemplo de como uma interface clara e eficiente pode oferecer uma experiência mais acessível e descomplicada, eliminando a necessidade de interações presenciais para a maioria dos serviços bancários.
Estes exemplos mostram que, em qualquer setor, a compreensão profunda do utilizador e a colaboração entre diferentes vertentes de design são essenciais para criar soluções eficazes. Um bom designer, independentemente da sua especialização, não pode ignorar a importância de compreender o comportamento humano, de testar soluções com base no feedback dos utilizadores e de colaborar com outros profissionais para criar resultados integrados. O objetivo final do design, seja ele gráfico, de interação ou estratégico, é sempre o mesmo: facilitar, inspirar e melhorar a experiência humana.
À medida que o campo do design se expande e se transforma, as oportunidades para os designers são cada vez maiores. Para prosperar neste cenário, os designers precisam de ser curiosos, inovadores e, acima de tudo, empáticos. A verdadeira revolução no design acontece quando conseguimos unir a estética, a funcionalidade e a estratégia, mantendo sempre o foco nas pessoas que servimos. O futuro do design pertence àqueles que conseguem ver além das suas disciplinas e criar soluções que inspiram e melhoram a vida de todos.
Artigo de opinião escrito por Gabriel Augusto.
Este artigo de opinião faz parte do eBook FLAG “Design em Perspetiva – As Múltiplas Facetas do Design” que reúne reflexões e ensaios de 14 profissionais que partilham as suas perspetivas sobre o papel do design na sociedade atual e futura.
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