#FLAGvox | GenX, GenZ, GenAI

A história humana está infinitamente carregada de registos de grandes evoluções sociais, económicas e, culturais.
Não é difícil perceber como os avanços na tecnologia foram promotores de grandes revoluções nas nossas vidas, bem como isso nem sempre foi uma transição pacífica e quase sempre disruptiva.
De momento, temos em mãos possivelmente a maior revolução (ou início dela) de que há registo. E creio também que se comete a falácia de a comparar à Revolução Industrial – embora entenda, pois é a nossa única base de referência.
Mas passo a explicar: na prévia deixámos de ter carroças para ter máquinas a vapor. E isso não só melhorou a produtividade, mas também gerou novas necessidades e funções. Surgiu a necessidade de ter pessoas para as usar, manter, engenheiros para as optimizar e inovar, e pessoas para formar todas as ditas, O mesmo na revolução informática. Construíram-se ferramentas melhores.
A falácia, creio, encontra-se quando não se atende ao facto de que neste caso, a ferramenta está a ser desenvolvida gradualmente para ela própria ser também o próprio trabalhador, e eventualmente substituí-lo. Isto é algo facilmente conferível observando as entrevistas e manifestos dos que encabeçam o seu desenvolvimento.
Se eu acho que o vai fazer? Não… Não totalmente. Mas definitivamente está a modificar a paisagem laboral e a própria relação dos humanos com o trabalho. Importante não esquecer que esta por sua vez também se alterou muito com o push informático durante a pandemia e de como esta trouxe à luz o facto de como o trabalho já não necessita de ser, na sua maioria, localizado ou centralizado.
No caso das artes gráficas, percepciono que o volume principal das ferramentas que existem são meramente versões polidas da velha piada de “botão para arte boa”, que dizíamos tanto, quando jocosamente comentávamos mais um leque de alterações por parte do cliente ou do director de arte. Mas estas estão cada vez mais a especializar-se e a ser desenvolvidas para complementar pipelines de produção. Features convergem e estandardizam-se. Case studies são levados cada vez mais a sério, e vive-se uma autêntica corrida às armas no que toca a AI.
Olhando com atenção, neste caso específico, com o Firefly da Adobe, podemos notar que o trabalho edição de imagem que demoraria vários dias a fazer com fotógrafos, compositores, etc, passa a ser feito numa manhã ou algumas horas. Os próprios mockups podem ser feitos já em qualidade final, o que agiliza a visualização por parte do cliente que muitas vezes não tem a biblioteca mental que um Designer, um artista gráfico, ou fotógrafo, possuem.
Muitas entidades no largo espectro da indústria audiovisual estão a optar por não usar estas ferramentas, mas mais pelas questões de privacidade e de direitos de autor ainda não estarem devidamente enquadradas legalmente. Mas a Caixa de Pandora foi aberta e tudo indica que vão passar a ser ferramentas obrigatórias no léxico profissional quotidiano… Produtividade acelerada e eficiente sempre foi o que os líderes de todas as indústrias almejam. Mas fico contente por perceberem que ainda não é uma solução integral, e que realmente o factor humano é imprescindível. Há casos documentados de empresas que decidiram substituir as suas equipas criativas por Prompt Engineers, para poucos meses depois as recontratar de novo. A nossa criatividade pessoal, leque de experiências e capacidades de adaptação continuam a ditar os motes da nossa sobrevivência como espécie, tanto agora, como há milhões de anos.
E com isto, notamos que existe muito trabalho que começa necessitar de muito menos massa humana (algo que admito já estar a acontecer há pelo menos duas décadas, com uma crescente massa populacional não-empregável).
Efectivamente em áreas específicas está a ocorrer uma substituição em massa. Podemos notar como várias equipas de copyrighters passam a ser equipas de uma pessoa, caixas e lojas completamente automatizadas, veículos auto-dirigíveis que passaram a ser os táxis oficiais em alguns países, fábricas de veículos automóveis na China e US (entre outros), com equipas de andróides autómatos (semelhantes aos desenvolvidos pela Boston Dynamics ou a Tesla), a substituírem algumas dezenas de humanos para serem supervisionadas só por um, etc.
Chegámos à era dos ciborgues, mas em vez do tio Arnold com o seu impressionante endoesqueleto de metal e CPU como cérebro, encontramos profissionais das àreas tecnológicas com wearable tech e muita augmentação à mistura.
Sou uma criança dos anos 80, recordo-me quando os tablets eram apenas um acessório fantasioso na série Star Trek: Next Generation, quando todos ficámos boquiabertos por os jogos saltarem da tecnologia de 8 bits para 16; e toda a tecnologia que se encontrava num estúdio ou atelier, está actualmente presente dentro do meu bolso, num já desactualizado Samsung Galaxy S22 Ultra.
A democratização da tecnologia entrou para ficar nas nossas vidas… Mas cabe-nos a nós entender como melhor a utilizar.
Artigo de opinião escrito por Filipe Teixeira.
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