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#FLAGvox | Valores e inovação: O impacto do design sustentável no futuro das IAs

Num mundo em que as alterações climáticas e a crise ambiental se tornaram questões urgentes, gerando um crescente sentimento de incerteza em relação ao futuro da humanidade, a sustentabilidade deixou de ser uma opção para se tornar uma necessidade imperativa.

 

A Geração Z, em particular, tem demonstrado um grande interesse e compromisso com este tema. Um estudo recente realizado pela Oliver Wyman revela que 75% dos jovens desta geração estão dispostos a pagar mais por produtos e serviços sustentáveis, e 88% acreditam que as empresas têm a responsabilidade de ajudar a resolver problemas sociais.

Esta crescente preocupação tem forçado as empresas a repensarem os seus modelos de negócio e processos internos, adotando práticas mais responsáveis e alinhadas com os valores da sociedade.

Neste contexto de procura por um futuro viável, o design sustentável surge como crucial na criação de produtos e serviços que criam valor, não apenas para os utilizadores, mas também para a sociedade como um todo. No contexto digital, esta abordagem envolve o desenvolvimento de produtos que atendem às necessidades dos utilizadores, mas que também procuram minimizar os impactos negativos na sociedade e no ambiente, promovendo inclusão e equidade.

Assim, os designers de UX desempenham um papel importante dentro das empresas como promotores de boas práticas de sustentabilidade, a fim de garantir a sua aplicabilidade durante as etapas do processo de design, bem como assegurar produtos digitais mais acessíveis e inclusivos. Esta abordagem está profundamente ligada à “values-based innovation”.

Inovação baseada em valores como ponto de rutura na era digital

A inovação baseada em valores é uma prática que procura alinhar o desenvolvimento tecnológico com valores éticos e sociais. Ao priorizar conceitos como a sustentabilidade, equidade e transparência, as empresas assumem o compromisso de criar soluções que contribuam positivamente para a sociedade.

No entanto, são muitos os desafios enfrentados pelas empresas na implementação destas práticas, e tudo indica que ainda há um longo caminho a percorrer no que toca à sustentabilidade.

A futurista Amy Webb alerta para esta questão no seu livro The Big Nine (2019). Ela destaca o crescimento descontrolado da tecnologia e os riscos associados à concentração da inteligência artificial nas mãos de nove Big Techs, como o Google e o Facebook. Para Webb, a falta de uma ética clara no desenvolvimento da IA e a priorização dos lucros em detrimento do bem-estar social podem conduzir a um futuro com maior desigualdade social. A autora ainda defende que é urgente a criação de uma regulamentação global para garantir que esta inovação seja utilizada em benefício da humanidade.

O papel do design sustentável no desenvolvimento de IAs

Com o desenvolvimento cada vez mais rápido das IAs, esta preocupação torna-se ainda mais evidente. Não por acaso, a UNESCO publicou em 2021 o documento oficial “Recomendação sobre a Ética da Inteligência Artificial”, com o objetivo claro de assegurar que os valores éticos não sejam negligenciados.

De acordo com este documento, três pontos devem ser fundamentais para garantir a sustentabilidade nos sistemas de IA:

  1. Reduzir o impacto ambiental, incluindo a sua pegada de carbono, consumo de energia e extração de matérias-primas.
  2. Promover a diversidade nas empresas, com a participação ativa de todos os indivíduos, independentemente de raça, cor, ascendência, género, idade, língua, religião, opinião política, nacionalidade, entre outros, para evitar a propagação de preconceitos discriminatórios.
  3. Garantir a privacidade e segurança de dados para todos, com foco no desenvolvimento de sistemas de IA sustentáveis que promovam a formação e validação de modelos que utilizem dados de qualidade.

 

Apesar do alerta de Amy Webb, a Microsoft é uma das grandes empresas tecnológicas que se destaca pelas suas práticas ESG no desenvolvimento de inovações. A empresa investe em energia renovável e comprometeu-se a eliminar todo o carbono que já emitiu desde a sua fundação até 2050. Além disso, investe em programas que fomentam a inclusão e diversidade, com foco em dar maior representatividade a mulheres e minorias na tecnologia.

Um longo caminho a percorrer

Embora o caso da Microsoft demonstre que é possível realizar uma mudança profunda nos processos, para que seja um fator determinante na construção de um futuro mais sustentável, a indústria tecnológica ainda precisa de enfrentar muitos desafios. Contudo, o essencial para começar é investir numa transformação cultural abrangente.

Esta mudança tem de ocorrer de forma sistémica, impactando desde a gestão de topo até à linha da frente, promovendo a diversidade, inclusão e ética em todos os níveis da organização como um pilar estratégico. Só assim será possível liderar o desenvolvimento de tecnologias que realmente beneficiem a sociedade como um todo.

 

Artigo de opinião escrito por Natália Fazenda

Este artigo de opinião faz parte do eBook FLAG “Design em Perspetiva – As Múltiplas Facetas do Design” que reúne reflexões e ensaios de 14 profissionais que partilham as suas perspetivas sobre o papel do design na sociedade atual e futura.

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