#FLAGvox | “Não. Isto não são só profissões de homens”
Um artigo escrito por várias formadoras da FLAG, uma escola especializada em Design, Criatividade e Comunicação, sobre cursos e profissões que ainda são vistos apenas para homens.
A tecnologia mudou a forma como víamos o mundo, e não só. A par dos avanços tecnológicos temos assistido também a uma mudança de mentalidades.
“A Internet e a democratização no acesso à informação foi um motor muito grande de mudança. E se há uns anos, para os nossos pais, ser professora, médica ou advogada, era o que nos permitia ter uma vida estável e de sucesso. Hoje, a tecnologia é uma área com mais saídas, oportunidades e estabilidade”, explica Sofia Santos Rafael, Senior Manager | Digital Projects & eCommerce Team @ Marketing Dptm na Stricker e formadora FLAG.
Da mesma opinião é Marisa Loureiro, formadora FLAG na área de UX/UI Designer, ao afirmar que o mercado da tecnologia tem-se transformado e crescido ao longo dos tempos: “O avanço da tecnologia e o rumo das coisas, cada vez mais viradas para o digital, também ajudaram a um maior crescimento desta área”.
Ainda há bem pouco tempo, entre os anos 90 e 2000, as profissões tecnológicas eram desempenhadas por mais homens do que mulheres. “Às mulheres estavam reservadas funções ‘satélite’, como secretária, assistente, administrativa e outras que tais. Raríssimas eram as mulheres que ocupavam um cargo mais técnico”, conta Teresa Gaudêncio Santos, “T-Shaped” Marketer, Consultora e Formadora FLAG, ao relembrar a experiência que viveu no início da sua carreira.
No entanto, esta mentalidade tem vindo a mudar e, apesar de ainda existir muito por fazer ao nível da igualdade de oportunidades de emprego, temos assistido a grandes transformações, nomeadamente no mercado tecnológico: palco de revelação onde cada vez mais vozes femininas se têm feito ouvir.
Atualmente, vemos em muitas empresas mulheres com cargos de liderança. Contudo, como bem sabemos, nem sempre foi assim…
Vanessa Arlandis, Online Director na Moviflor e Formadora FLAG, acha que esta mudança de ‘chip’ foi “bidirecional”: “não foram só as mulheres que revelaram mais interesse por estas matérias, mas também as empresas que começaram a valorizar mais o trabalho das mulheres dentro destas áreas que eram, predominantemente, ocupadas por homens. A tecnologia sempre foi muito exigente para quem trabalha nessas áreas e, talvez por isso, as mulheres não tinham lugar dentro das empresas, uma vez que sempre foram vistas como pouco disponíveis devido à conciliação com a vida pessoal. (…) A mudança cultural dentro das empresas onde, cada vez, mais se valoriza o ‘match’ entre a vida profissional e pessoal, levou a que não só mais mulheres vissem aqui uma oportunidade de fazerem aquilo que gostam e perceber que teriam essa possibilidade, assim como as empresas conseguiram detetar as vantagens de ter equipas mistas”.
Não é que exista “uma conspiração deliberada contra as mulheres” como diz Margo Pinto, Diretora de Data Insights & Estratégia na SA365 e formadora FLAG, mas é evidente que “precisamos de mais profissionais femininas nas áreas tecnológicas, para que não continuemos a considerar o sujeito mais comum de análise atual – human standard – que é, na verdade, men standard. (…) Sermos mais mulheres a trabalhar na área de Data & Insights não é só uma questão moral e ética. É uma questão científica, económica e tecnológica. É a única forma de desenvolver inovação”.
Na área tecnológica temos profissões “de” pessoas, desempenhadas por indivíduos, independentemente do seu género, como indica Teresa: “tudo se resume a isto: não são profissões de homens ou de mulheres (…) são profissões de pessoas. De pessoas metódicas e organizadas, com capacidades de trabalhar em multitarefa, de correlacionar temas. De encontrar soluções rápidas; de pessoas criativas, que querem resolver problemas quotidianos, inovar, descobrir, aprender e aplicar. Ora, tudo isto são características pessoais… não características exclusivas de homens ou de mulheres”.
Ana Maria Lima, Consultora e Estratega de Marketing de Conteúdo e SEO e formadora FLAG partilha da mesma opinião: “No Marketing Digital são muito importantes capacidades empáticas, capacidades de análise de perfis, experiências empíricas, conhecimentos que ultrapassam a técnica (…), o que conta é a capacidade de aprender e apreender, relacionar experiências e aplicar conhecimento. O género conta zero”.
Vera Maia, CEO na Shaeco e na Tudo Sobre eCommerce, e formadora FLAG, acrescenta: “não acredito que existam profissões para homens ou para mulheres. Mesmo aquelas que envolvem maior força física. As mulheres estão em maior número nas universidades e ocupam, cada vez mais, cargos de chefia. Qualquer mulher pode decidir estudar em qualquer área ou fazer uma mudança de carreira aos 50 anos”.
Se alguma vez estas profissionais sentiram preconceito de trabalhar numa empresa tecnológica onde existem mais homens do que mulheres? Algumas sim, outras nem por isso: “Senti sempre algumas dificuldades na relação de alguns homens com mulheres capazes, líderes e com mais potencial” partilha Ana; “há uns anos atrás ainda me deparei com reações condescendentes ou preconceituosas” sentiu Sofia; “não darem voz, não valorizarem o trabalho da mulher ou insinuarem que não pode evoluir mais na empresa em que está a trabalhar porque os postos de liderança não são para mulheres” conta Vanessa; “infelizes e comuns entrevistas de trabalho onde me perguntaram qual a profissão dos meus pais e se eu tinha namorado, ou o clássico ‘pensa vir a ter filhos?’…” desabada Margo. São vários os testemunhos destas profissionais do mundo digital.
Mas será que se deixaram intimidar por estas situações?
Não. São mulheres que se “impuseram”, “falaram a linguagem dos homens”, que mostraram que também entendiam da área”. Que hoje são recebidas com entusiasmo e como iguais nas suas áreas profissionais, e conseguiram fazer o seu percurso de crescimento profissional.
Sigam o conselho da Vanessa: “Mulheres, sem medo. Façam aquilo que gostam, estudem, adquiram experiência, e deixem que o vosso trabalho fale por vocês. Acreditem que as empresas querem pessoas com valor, seja qual for o seu género. A tecnologia é também uma área de mulheres, com cada vez mais mulheres no ativo e onde são cada vez mais reconhecidas no mercado (…) cada conquista é gratificante e porta aberta a várias mulheres”. E lembrem-se que ao contribuírem para “esta representatividade das mulheres nas áreas tecnológicas, sobretudo em posições de decisão, estão a aumentar as oportunidades de entrada profissional de outras mulheres, bem como, consequentemente, a aumentar a riqueza de perspetiva e diminuir o risco de perpetuar tendências de género” alerta Margo.
Artigo de Opinião em: Economia a Minuto.